terça-feira, setembro 14, 2010

É o que me inspira


Duro. Preto. Branco.

Molinho até que serve, principalmente numa hora precisada.

Não importa o tamanho, mas a sensação que me traz.

Não importa o formato, mas o prazer que me dá.

É o que me inspira.

Particularmente, prefiro lamber, chupar, aos poucos, bem devagar, para sentir todo o sabor.

Depois, com pequenas mordidas me esbaldar.

Não há sensação melhor. Mistura de prazer com culpa, de euforia com lucidez. Que me faz perder o fôlego.

Adoro quando escorre entre meus dedos e me lambuza.

É o que me inspira. É o que me faz feliz. É o que me satisfaz.

Estímulo, minha liberdade, criatividade, meu espírito livre.

É o que me inspira.

Eu amo chocolate.

quarta-feira, setembro 01, 2010

O peso da minha cruz


Sempre fui muito sensitiva, literalmente. Conseguia sentir o que as outras pessoas sentiam: fome, sede, dor.
Bastava chegar perto de mim e dizer: ai que dor! e pronto, já estava sentindo a tal da dor. E o mais engraçado, se é que posso considerar assim, é que a pessoa parava de sentir.
E não é frescura, como muitos podem estar pensando, porque eu costumava ficar quieta e não revelar que o que estava sentindo. Já o outro, costumeiramente, dizia: nossa parou de doer.
Foram tantos anos sentindo a dor dos outros, que parei de sentir as minhas próprias. Até que um dia me cansei e resolvi parar, afinal, todos dizem que a própria cruz é sempre mais leve que a dos outros e o fardo já estava bem pesado.
Já são quatro anos carregando somente a minha cruz e, agora, a bendita começa a pesar demais. Tanto que estou a ponto de desistir.
Acho que vou voltar a exercer a minha sensitividade, se é que esta palavra existe, e sentir apenas o que os outros sentem. Quem sabe assim, a minha cruz fique mais leve e eu consiga, novamente, carrega-la. Ou perceba que meus problemas não são tão graves assim.
O que sei é que o peso da minha cruz, hoje, é incalculável, bons tempos aqueles em que ela não pesava quase nada.

terça-feira, agosto 31, 2010

Alma Morena


Não amei de primeira
Até resisti
Mas a tarde chegou
Com aquela luz que apaixona
Que faz tudo mais belo

Não teve jeito, já era sua
Sem palavras, sem gestos
Somente amor

Eu fiquei e fiquei para sempre
Criei raiz e sonhei meus sonhos
Plantei vida e colhi realizações
Sou mais que filha
Tenho a alma morena



sexta-feira, agosto 27, 2010

Um brilho no olhar

Ela foi se chegando, com aquele brilho no olhar.

- Me perdoa, dizia a voz doce, num sussurro arrepiante.

Ele até tentou ignorar, mas aquele brilho era fatal e aquela voz rouca enfeitiçava. Até hoje não entende como não consegue se desamarrar. Como não tem forças para resistir.

Não que ela fosse feia, estranha, ou algo parecido. Mas ela nunca foi o tipo de mulher que ele desejou para viver junto. Era mandona, falava alto, gesticulava, ria mostrando os dentes e entendia de futebol melhor que qualquer outro cara.

De fato era divertida, um mulherão, literalmente. Seus quase 1,80 distribuídos em mais de 75 quilos chamavam atenção por onde passavam. Não tinha limites, nunca. Com ela não existe esta história de dieta, comer só salada, se amarrava em massa, comia quase uma pizza inteira e destruía na churrascaria.

Sua frase preferida sempre foi Eu sou. Era um tal de eu sou assim, eu sou assado, eu faço isso. E foi este o motivo da briga, de ter deitado mais cedo, de costas para o lado dela, de não ter apreciado o seu banho, o seu ritual de cremes, a sua sensualidade ao pentear os cabelos.

Resumindo a briga, o rapaz do censo tocou no apartamento, ela atendeu, responde aqui, responde ali e veio a tal pergunta: Quem é o chefe da casa, no que prontamente ela respondeu bem alto, bem do seu jeito: Eu sou A chefe da casa. Quando ouviu aquilo, com aquele ar de deboche, seu sangue ferveu, ela passou dos limites. Alias, ela já havia passado dos limites há muito tempo, com seu jeito prepotente, sua arroganciazinha disfarçada, sua ironia explícita. Teve vontade de gritar, de xingar, de pegar suas coisas e ir embora.

Mas, ao invés disto, não jantou, tomou banho e foi deitar, com fome e o orgulho ferido.

E agora ela vem, toda macia, perfumada e com aquele bendito brilho. Aquela sede. É claro que ele não resiste, ela sabe o que fazer e, principalmente, como fazer. Ela sempre o reconquista. Um minuto depois já nem lembra mais do que se tratava.

Ela perguntou: Você já me perdoou. E ele, como sempre: Sim querida, perdoei, você é a coisa mais importante da minha vida.

E ela, com aquele jeitinho, com aquele brilho que o enlouquece: Amorrr!

Ele: Fala minha linda. Ela: Apaga a porra da luz, que eu quero dormir!

terça-feira, agosto 24, 2010

A senha

Todos os meus sonhos foram depositados numa única conta, cuja senha sabia de cor.
Acontece que os anos passaram e a memória foi ficando fraca.
Um dia, simplesmente, esqueci a senha e meus sonhos ficaram lá, depositados e inacessíveis.
Me conformei, afinal, chega um tempo em que sonhos não são mais necessários, são até dispensáveis, pois dão muita ilusão à vida.
E, assim, segui vivendo, sem sonhos, somente com a realidade, muitas vezes dura.
Chegou um tempo em que estava tão mergulhada na realidade que não conseguia mais perceber o belo, o subjetivo, o supérfluo, o sentimento.
Via apenas a rua, o trânsito, a conta, o necessário, o obrigatório. Eu vivia, mas não VIVIA. Eu respirava, mas não inspirava, não cheirava, não aspirava.
Eu vivia, mas não existia.
E existir sempre foi parte dos meus planos. Desde pequena me arrepiava a ideia de passar pela vida sem vivê-la plenamente.
Comecei a sentir falta de algo e, tentando suprir esta falta, arrisquei mergulhos e mundos diferentes, que me faziam viver cada vez menos.
Um dia, vasculhando minhas gavetas a procura de algo que nem eu mesmo sabia o que era, encontrei o que não buscava: um papelzinho amarelado, com um letra bonita, dos tempos em que viver era sublime. Uma luz invadiu meu rosto, cores, sons, desejo, aromas, sabores passaram a fazer parte dos meus sentidos.
Mesmo na mais escura das noites, sempre há de aparece um vagalume para iluminar seu caminho. E assinava Para sempre seu com um número de telefone.
Peguei o telefone e disquei aquele número esquecido.
Do outro lado aquela voz tão desejada atende: Sou eu, seu vagalume, vou iluminar seus caminhos. Estava com tantas saudades, meu amor...
A senha para acessar meus sonhos.

terça-feira, junho 22, 2010

Felicidade ao avesso

Se é para ser feliz, prefiro chorar de tanto rir.
Felicidade não se compra, mas bem que tirar um extrato e ver um saldo positivo faz a gente abrir um grande sorriso.
É importante trabalhar com alegria, mais importante ainda é ter um emprego.
Eu não nasci ontem, mas bem que podia, assim ao me olhar no espelho não veria algumas rugas tentando me marcar.
Trinta dias não são suficientes para uma grande transformação, mas em um mês tudo pode mudar. Para melhor ou para pior.
Eu, hoje, prefiro que seja amanhã e amanhã, provalmente, vou rezar para o tempo voltar ao ontem.
Nunca, ou quase nunca, estou satisfeita. Satisfação completa pode ser comparada à conformismo.
Eu sempre conto mentiras, afinal elas são muito mais interessantes que a verdade.
Eu sempre tento falar a verdade, afinal ela é muito mais segura que a mentira.
A contradição é meu espetáculo e ele sempre tem uma continuação.
Se eu pudesse voltar ao 15 de setembro de muitos anos atrás, será que eu teria me apresentado? Tomado a iniciativa? Comido aquele lanche? Provavelmente sim, eu vivo insistindo nos erros. Mesmo porque os erros fazem parte de grandes acertos.
Amanhã vou tentar de novo e provavelmente não vou conseguir, mas e daí? O mundo é assim mesmo, nem a Rainha da Inglaterra tem todos aos seus pés.
Eu prefiro minha felicidade ao avesso que a infelicidade certinha.

sexta-feira, março 05, 2010

No meu mundo perfeito

No meu mundo perfeito, chocolate não engordaria, nem daria dor de barriga.
No meu mundo perfeito, aquela maldita ruga não estaria ali, na minha testa.
No meu mundo perfeito, estrias, celulites, marcas de sol e gordurinhas localizadas não existiriam, nem no dicionário.
No meu mundo perfeito, reuniões na escola somente para elogios pelas notas e comportamentos maravilhosos dos meus filhos.
No meu mundo perfeito, as concessionárias e empresas só me ligariam para oferecer descontos, brindes e outras vantagens.
No meu mundo perfeito, eu nunca discutiria, porque todos concordariam comigo.
No meu mundo perfeito, as mulheres não seriam discriminadas, nem relegadas a estereótipos.
No meu mundo perfeito, eu seria sempre feliz, amada e respeitada.
No meu mundo perfeito, em dias ruins eu não sairia da cama. Tudo silenciaria. A palavra mãe não seria dita. Aliás, no meu mundo perfeito, os dias ruins nunca aconteceriam.
Este é o meu. E o seu, como seria?

quarta-feira, março 03, 2010

Nem precisava tanto...

É que a mulher tem um jeito de fazer especial
Tem um toque que modifica, que enaltece
É que a mulher supera crises, enquanto embala sonhos
Descobre novos caminhos, enquanto adoça a vida

É que sem a mulher não há encanto
Não há luz, não há conquistas, não há grandeza

Com a mulher, o mundo fica mais interessante
Mais colorido, mais perfumado, mais inteligente

Sua competência frente aos negócios
Sua leveza frente aos percalços
Sua doçura frente aos desafios do mundo
Fazem os problemas diminuírem
As dores suavizarem, os males serem curados
E a vida melhor de ser vivida

É que a mulher é tudo isto
E, ainda assim, quer ser muito mais.
Mesmo sem precisar.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

A fila, o grosseiro e a engraçadinha. Ou como sempre digo: ignorância aos ignorantes.

Diariamente vou ao supermercado, de segunda a segunda. Seja para comprar leite, fruta, carne, fraldas. Quando não vou ao supermercado do bairro, vou a um grande hipermercado, que fica próximo de minha casa, cerca de quatro quadras.
No supermercado do bairro é sempre muito tranqüilo, conheço o gerente e a maioria dos funcionários pelo nome, as filas são respeitadas, as pessoas são cordiais e até entendem a cara emburrada que a filha do proprietário, vez ou outra, apresenta. Resumindo, se não fossem os preços de alguns produtos, seria uma maravilha comprar ali.
No grande hipermercado vou comprar produtos mais caros, como a fralda do bebê, produtos de limpeza, entre outros. Lá sempre acontecesse algum tipo de problema: São pessoas que não respeitam o limite máximo de produtos ou o caixa exclusivo. São preços que nunca batem com a etiqueta. Mas os problemas maiores são sempre com as filas, ah, as filas!
Outro dia eu fui protagonista de um problema destes. Estava na fila do caixa rápido, na minha frente muitas pessoas, atrás, outras tantas, quando vi minha vizinha parando na fila. Sem pensar duas vezes a chamei para ficar comigo, assim colocávamos a conversa em dia, pois apesar de vizinhas de muro, quase nunca temos tempo para conversar.
Esperamos um tempão até chegar a nossa vez, esperamos inclusive as duas moças, que estavam na nossa frente, irem buscar um produto que faltou. Como a conversa estava boa nem nos importamos com a demora.
Quando chegou nossa vez, o senhor que estava atrás, apontou o dedo para minha vizinha e grosseiramente disse: A SENHORA NÃO ESTAVA NA FILA. Aquilo me ferveu o sangue e respondi no ato: claro que estava, ela está comigo! E ele começou a gritar conosco, de uma forma extremamente grosseira.
Aquilo me enfureceu e eu disse: já que é assim, passe na minha frente, seu grosso, mal educado. Ele respondeu: passo mesmo, eu não sou besta. Aí a engraçadinha aqui disse, em tom de gozação: claro que é besta, porque se tivesse sido um pouco mais gentil e educado, eu também teria deixado o senhor passar na minha frente, só que sem chamá-lo de grosso.
Eu sei que muita gente que está lendo está pensando que a culpa é minha, porque é falta de educação deixar alguém furar a fila. Mas o fato é que ela é minha amiga e se ela tivesse chegado dois minutos antes, ou eu dois minutos depois, estaríamos juntas, de qualquer forma, na fila.
O que me irritou no caso foi a grosseria do senhor, que viu e percebeu que ela ia passar na minha frente e deixou para GRITAR com a gente quando chegamos ao caixa. Ele poderia, de imediato, e de forma mais gentil, ter dito que não iria admitir que ela passasse a sua frente. Evitaria um escândalo, como o que aconteceu, e teria tido a oportunidade de expressar a sua cidadania de forma civilizada.
Muitas vezes já deixei pessoas que tinham apenas um produto passar na frente. Outras vezes, me deixaram passar. O que pontuou estas situações foi a cordialidade entre as pessoas. Eu acredito, e tento colocar em prática, na educação e na gentileza, mesmo na hora de fazer valer os meus direitos. Já discuti com pessoas que queriam passar na minha frente, na fila. Mas a discussão deu-se de forma educada, comigo dizendo de forma gentil que não era justo furar a fila e a pessoa entendendo o recado. Ambos saímos satisfeitos do supermercado.
Acredito que o “eu não quero ser o besta da história” tem valido muito mais que o “eu quero ser o gentil e o educado da história”. As pessoas têm um grande medo de serem passadas para trás, de sentirem-se perdedores e de não conseguirem tirar vantagem das situações. E com isto deixam os bons modos e a cortesia de lado.
Como diria um amigo, é por isso que as pessoas matam umas as outras, elas sempre saem de casa armadas com a intolerância e a ignorância.
Talvez o mundo fosse outro, se não nos importássemos com a vitória e sim com o jogo, se pensássemos mais no outro, se usássemos a gentileza como ferramenta de vida, se deixássemos os gritos e as grosserias de lado e déssemos mais valor a uma boa conversa, a risadas sinceras e a um mundo mais tranqüilo.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Caí do salto, literalmente

Estava no supermercado. Fim do dia, cansada, com a maquiagem já querendo sair, sentindo a bolsa mais pesada do que costume e de salto, alto, altíssimo. Passei pelo corredor de leite. Dei uma olhadinha nas bolachas. Peguei um iogurte, um queijo. Não me esqueci das frutas e do suco das crianças. Fui para a fila do pãozinho, já pensando na fila do caixa.
Distraída com minha agenda mental de tarefas a serem (e que nunca serão) feitas, percebi um vulto ao meu lado e ouvi um: Márcia há quanto tempo! Olhei rapidamente, tomada por um susto e uma sensação familiar: aquela voz não me era estranha.
Pontuei de cima a baixo aquele mulherão que falava comigo tão intimamente. Cabelos longos e devidamente hidratados, soltos com aquele ar natural que só os comerciais têm. Pele sem nenhuma ruga, mancha ou sinal. Maquiagem perfeita. Roupa elegante. Reparei na marca da bolsa: uma Saad. Sapatos impecáveis e uma delicadeza no olhar.
Confesso que demorei alguns longos segundos até reconhecer. Não, não era possível que aquela mulher linda e elegante fosse a mesma menina estranha, cheia de espinhas e sem nenhum gosto para roupas ou namorados.
Ela agia como nos tempos da escola, só que mais extrovertida, mais intelectualizada. Fez um milhão de perguntas, sobre minha vida, trabalho, filhos, marido. E me abraçava. Como quem abraça alguém que ama muito. Fiquei comovida. Não esperava tanto entusiasmo e amor, depois de tantos anos e depois de tudo o que aconteceu.
Ela, adolescente tímida, estranha, cheia de neuras. Eu, comum, mas bem relacionada e muito bem acompanhada. Uma festa, uma distração minha e uma música lenta bastaram para criar um clima entre a garota e meu acompanhante. Como nunca fui de levar desaforo e nem de perder o par, interrompi a música no melhor estilo arrombo adolescente. Fui ao encontro do casal, no meio da pista e por não entender ainda as relações homemxmulher, ao invés de brigar com o garoto, mirei a garota e, sem dó, nem piedade, joguei sobre ela toda a minha raiva.
Fui cruel, fui insensível, fui má. E ela seduzida e muito assustada, ouviu tudo, segurando as lágrimas. Disse-lhe minhas verdades e minhas mentiras. Esvaziei minha alma e a entulhei com coisas do tipo: aprenda a ser mulher, primeiro; tenha vergonha na cara e procure seu próprio namorado; vá estudar que você ganha mais; você acabou de provar que nem inteligência tem.
Lembrando de nosso último encontro, senti uma imensa vergonha. Hoje, faria completamente diferente e com toda a certeza não a atacaria e sim o infeliz, afinal era dele a responsabilidade da fidelidade. Mas como não se pode mudar o que foi e como aprendi as lições da vida, interrompi a bela mulher e perguntei-lhe se ela lembrava a última vez que havíamos nos falado, numa espécie de mea culpa.
Para a minha surpresa ela disse: claro, graças ao que você me disse naquele dia, hoje estou assim. O assim dela era graduada e pós-graduada no exterior, casada, rica, bem sucedida e, segundo suas próprias palavras, feliz, muito feliz.
A sensação de culpa deu lugar a uma felicidade imensa, então fiz bem à garota. Não fui de toda cruel e horrível. Afinal, ela está mais bonita, mais capacitada, mais experiente e mais feliz. Ela que era o alvo das mais terríveis chacotas, hoje é o motivo das mais sinceras invejas, e está bem melhor do que eu. Este pensamento me estremeceu e, num tropeço fatal, cai, deixando rolar supermercado adentro laranjas, queijo, sucos e pães.
Acho que foi a vida me dando mais uma lição.