terça-feira, agosto 31, 2010

Alma Morena


Não amei de primeira
Até resisti
Mas a tarde chegou
Com aquela luz que apaixona
Que faz tudo mais belo

Não teve jeito, já era sua
Sem palavras, sem gestos
Somente amor

Eu fiquei e fiquei para sempre
Criei raiz e sonhei meus sonhos
Plantei vida e colhi realizações
Sou mais que filha
Tenho a alma morena



sexta-feira, agosto 27, 2010

Um brilho no olhar

Ela foi se chegando, com aquele brilho no olhar.

- Me perdoa, dizia a voz doce, num sussurro arrepiante.

Ele até tentou ignorar, mas aquele brilho era fatal e aquela voz rouca enfeitiçava. Até hoje não entende como não consegue se desamarrar. Como não tem forças para resistir.

Não que ela fosse feia, estranha, ou algo parecido. Mas ela nunca foi o tipo de mulher que ele desejou para viver junto. Era mandona, falava alto, gesticulava, ria mostrando os dentes e entendia de futebol melhor que qualquer outro cara.

De fato era divertida, um mulherão, literalmente. Seus quase 1,80 distribuídos em mais de 75 quilos chamavam atenção por onde passavam. Não tinha limites, nunca. Com ela não existe esta história de dieta, comer só salada, se amarrava em massa, comia quase uma pizza inteira e destruía na churrascaria.

Sua frase preferida sempre foi Eu sou. Era um tal de eu sou assim, eu sou assado, eu faço isso. E foi este o motivo da briga, de ter deitado mais cedo, de costas para o lado dela, de não ter apreciado o seu banho, o seu ritual de cremes, a sua sensualidade ao pentear os cabelos.

Resumindo a briga, o rapaz do censo tocou no apartamento, ela atendeu, responde aqui, responde ali e veio a tal pergunta: Quem é o chefe da casa, no que prontamente ela respondeu bem alto, bem do seu jeito: Eu sou A chefe da casa. Quando ouviu aquilo, com aquele ar de deboche, seu sangue ferveu, ela passou dos limites. Alias, ela já havia passado dos limites há muito tempo, com seu jeito prepotente, sua arroganciazinha disfarçada, sua ironia explícita. Teve vontade de gritar, de xingar, de pegar suas coisas e ir embora.

Mas, ao invés disto, não jantou, tomou banho e foi deitar, com fome e o orgulho ferido.

E agora ela vem, toda macia, perfumada e com aquele bendito brilho. Aquela sede. É claro que ele não resiste, ela sabe o que fazer e, principalmente, como fazer. Ela sempre o reconquista. Um minuto depois já nem lembra mais do que se tratava.

Ela perguntou: Você já me perdoou. E ele, como sempre: Sim querida, perdoei, você é a coisa mais importante da minha vida.

E ela, com aquele jeitinho, com aquele brilho que o enlouquece: Amorrr!

Ele: Fala minha linda. Ela: Apaga a porra da luz, que eu quero dormir!

terça-feira, agosto 24, 2010

A senha

Todos os meus sonhos foram depositados numa única conta, cuja senha sabia de cor.
Acontece que os anos passaram e a memória foi ficando fraca.
Um dia, simplesmente, esqueci a senha e meus sonhos ficaram lá, depositados e inacessíveis.
Me conformei, afinal, chega um tempo em que sonhos não são mais necessários, são até dispensáveis, pois dão muita ilusão à vida.
E, assim, segui vivendo, sem sonhos, somente com a realidade, muitas vezes dura.
Chegou um tempo em que estava tão mergulhada na realidade que não conseguia mais perceber o belo, o subjetivo, o supérfluo, o sentimento.
Via apenas a rua, o trânsito, a conta, o necessário, o obrigatório. Eu vivia, mas não VIVIA. Eu respirava, mas não inspirava, não cheirava, não aspirava.
Eu vivia, mas não existia.
E existir sempre foi parte dos meus planos. Desde pequena me arrepiava a ideia de passar pela vida sem vivê-la plenamente.
Comecei a sentir falta de algo e, tentando suprir esta falta, arrisquei mergulhos e mundos diferentes, que me faziam viver cada vez menos.
Um dia, vasculhando minhas gavetas a procura de algo que nem eu mesmo sabia o que era, encontrei o que não buscava: um papelzinho amarelado, com um letra bonita, dos tempos em que viver era sublime. Uma luz invadiu meu rosto, cores, sons, desejo, aromas, sabores passaram a fazer parte dos meus sentidos.
Mesmo na mais escura das noites, sempre há de aparece um vagalume para iluminar seu caminho. E assinava Para sempre seu com um número de telefone.
Peguei o telefone e disquei aquele número esquecido.
Do outro lado aquela voz tão desejada atende: Sou eu, seu vagalume, vou iluminar seus caminhos. Estava com tantas saudades, meu amor...
A senha para acessar meus sonhos.