O balanço
Embalança meu coração
Embalança
O balanço do meu coração
Ela tinha 30 e poucos, quer dizer trinta e alguns. Ok, ela tinha trinta e muitos e já se preparava para os 40. Sem traumas, neuras ou receios. Quer dizer, com exceção daqueles quilinhos a mais. Mas isto se resolveria quando voltasse pra academia, ou melhor, quando conseguisse tempo para voltar. Assunto futuro.
Há tempos estava sentindo falta de um aconchego, de um suspiro no pescoço, de umas mordidinhas nos dedos. Sentia necessidade daquele cheiro, daquele hálito, daquele gosto. E o telefone ali, ao seu lado. Tantas teclas com números. Se bem que aqueles números nunca deram sorte. Números de azar e nem tinha um treze neles. Mas eles estavam ali, ansiosos para ser tocados. Este, era assunto presente.
Pena que sua memória era tão boa quanto da sua mãe, que tinha a infeliz mania de se lembrar de todos os seus dias de sofrimento. Apesar de que com ela, a memória era seletiva. O sofrimento era quase um aperitivo. Ah, e como ela gostava de aperitivos. Ou não, não gostava? Bendita memória seletiva que fazia com que se lembrasse daqueles olhos azuis e cabelos negros caídos de lado. Um assunto passado.
E entre seus quase enta com os quilinhos a mais, o telefone e seus números brilhantes, os olhos azuis que reluziam na memória, o futuro, o presente e o passado misturavam-se. Então tomou a decisão: foi dançar e ver o dia raiar do alto, quem sabe assim a linha do tempo se alinharia e ela finalmente poderia curtir seu ciclo completo.
Pintei as paredes da sala
De cor de vida irradiante
As paredes da sala pulsaram
Até me matar, aos poucos
Comprei tinta nova
De cor de sorrisos
Revivi, as cores pulsaram
Até me matar, aos poucos
Rasguei o papel de parede
Colei novas estampas
Cor de amor apaixonado
As estampas pulsaram
Até me matar, aos poucos
Morri de novo e morri
E morri outra vez
Até viver, aos muitos
Hoje não vejo cores formas
Não sinto texturas ranhuras
Vivo, aos poucos, aos muitos
Até morrer, de vida
EU SOU O FUTURO
TERRA DE GENTE FORTE
LAR DE GUERREIROS
DE SUL-MATO-GROSSENSES
BRASILEIROS...
EU SOU O ALVORECER
A CONQUISTA DE CADA DIA
O SONHO, A REALIDADE...
A MAIS PURA MELODIA
SOU O MATO, A RAÍZ, O CAULE
A DELICADA FLOR
FEITO DA MESMA ALMA
CULTIVADO COM O MESMO AMOR
DE TRABALHO
DE DESENVOLVIMENTO...
SOU PLENO, FORTE,
EM CONSTANTE MOVIMENTO...
MINHA HISTÓRIA AINDA É JOVEM
MAS SOU GRANDE TAL QUAL MEU POVO
COM A PUJANÇA E GRANDEZA
DE FERTILIDADES MIL
SOU O ORGULHO E A CERTEZA
DO FUTURO DO BRASIL
Despeço-me dos amigos, dos vizinhos e dos amores.
Dou adeus aos estranhos, até logo aos que conheço.
Parto uma partida lenta, sofrida.
Lamentando a ausência, chorando a ida.
Sem retornos certos, a melancolia é companhia constante.
Meus erros ficaram marcados.
Os acertos, levo comigo, numa bagagem parca.
Calçada com o desespero não vejo o fim do caminho.
Apenas vou adiante.
Deixei de lado as ilusões e voei o mais alto que pude.
Não consegui alcançar, mas descobri um novo mundo.
Voltei fortalecida, querendo dançar, beber, ser eu mesma.
Agora o sentimento está solto, liberto, pronto para o próximo.
O corpo não corresponde, mas a alma clama.
E eu quero mais, muito mais.
A liberdade tem seu preço.
Já fiz meu pagamento.
Agora espero o troco, o embrulho e vou embora.
Não é como uma música, mas tem seu ritmo.
Uma melodia sem acordes, que silencia meu ego.
Nada como o próximo gole. Melhor seria não mais voltar.
Nada como a próxima viagem. Melhor seria continuar eternamente.
Estou mais distante que nunca. Chego a agradecer.
Não tenho culpa, deixei tudo para trás.
É uma pena. Minha emoção cessou.
Ser egoísta às vezes é bom. Quase sempre. Estou feliz.
Sinto falta de alguém que se perdeu nas angústias.
A noite calma tirou meu sono
Acordei pensando em você
O calafrio do abandono me fez voltar à realidade
Nem sempre sou capaz de suportar
Nossa música já tocou
Perdemos o compasso
O espaço e o tempo não são meus aliados
Mas estou a um beijo de distância
Fui impelida a ficar
Não escolhi a próxima valsa
Voltar nunca foi minha decisão
O dois pra lá, dois pra cá ficou preso em meu pensamento
A mulher que eu não fui não se prende.
Se joga.
A mulher que eu não fui não tem compromissos.
Tem encontros.
A mulher que eu não fui não se apaixona.
Tem coleções.
A mulher que eu não fui não fica em casa.
Entra no casulo.
A mulher que eu não fui não tem dúvidas.
Tem opções.
A mulher que eu não fui não se entrega.
Conquista.
A mulher que eu não fui não tem medo.
Tem desafios.
A mulher que eu não fui não tem relacionamentos.
Tem conquistas
A mulher que eu não fui tem muito de mim.
E nada do que sou.
Ela não sofre, não chora, não volta atrás e não lamenta o que passou.
Ela simplesmente vive. Nos meus sonhos.
Duro. Preto. Branco.
Molinho até que serve, principalmente numa hora precisada.
Não importa o tamanho, mas a sensação que me traz.
Não importa o formato, mas o prazer que me dá.
É o que me inspira.
Particularmente, prefiro lamber, chupar, aos poucos, bem devagar, para sentir todo o sabor.
Depois, com pequenas mordidas me esbaldar.
Não há sensação melhor. Mistura de prazer com culpa, de euforia com lucidez. Que me faz perder o fôlego.
Adoro quando escorre entre meus dedos e me lambuza.
É o que me inspira. É o que me faz feliz. É o que me satisfaz.
Estímulo, minha liberdade, criatividade, meu espírito livre.
É o que me inspira.
Eu amo chocolate.
Ela foi se chegando, com aquele brilho no olhar.
- Me perdoa, dizia a voz doce, num sussurro arrepiante.
Ele até tentou ignorar, mas aquele brilho era fatal e aquela voz rouca enfeitiçava. Até hoje não entende como não consegue se desamarrar. Como não tem forças para resistir.
Não que ela fosse feia, estranha, ou algo parecido. Mas ela nunca foi o tipo de mulher que ele desejou para viver junto. Era mandona, falava alto, gesticulava, ria mostrando os dentes e entendia de futebol melhor que qualquer outro cara.
De fato era divertida, um mulherão, literalmente. Seus quase 1,80 distribuídos em mais de 75 quilos chamavam atenção por onde passavam. Não tinha limites, nunca. Com ela não existe esta história de dieta, comer só salada, se amarrava em massa, comia quase uma pizza inteira e destruía na churrascaria.
Sua frase preferida sempre foi Eu sou. Era um tal de eu sou assim, eu sou assado, eu faço isso. E foi este o motivo da briga, de ter deitado mais cedo, de costas para o lado dela, de não ter apreciado o seu banho, o seu ritual de cremes, a sua sensualidade ao pentear os cabelos.
Resumindo a briga, o rapaz do censo tocou no apartamento, ela atendeu, responde aqui, responde ali e veio a tal pergunta: Quem é o chefe da casa, no que prontamente ela respondeu bem alto, bem do seu jeito: Eu sou A chefe da casa. Quando ouviu aquilo, com aquele ar de deboche, seu sangue ferveu, ela passou dos limites. Alias, ela já havia passado dos limites há muito tempo, com seu jeito prepotente, sua arroganciazinha disfarçada, sua ironia explícita. Teve vontade de gritar, de xingar, de pegar suas coisas e ir embora.
Mas, ao invés disto, não jantou, tomou banho e foi deitar, com fome e o orgulho ferido.
E agora ela vem, toda macia, perfumada e com aquele bendito brilho. Aquela sede. É claro que ele não resiste, ela sabe o que fazer e, principalmente, como fazer. Ela sempre o reconquista. Um minuto depois já nem lembra mais do que se tratava.
Ela perguntou: Você já me perdoou. E ele, como sempre: Sim querida, perdoei, você é a coisa mais importante da minha vida.
E ela, com aquele jeitinho, com aquele brilho que o enlouquece: Amorrr!
Ele: Fala minha linda. Ela: Apaga a porra da luz, que eu quero dormir!